Mudanças entre as edições de "Lei de Desafetação"
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Pelo menos mil e oitocentas famílias de baixa renda seriam beneficiadas com a aprovação da lei. Como é um número altamente expressivo, durante a discussão na Câmara, moradores dessas regiões invadidas foram à CVJ entregar cartas, bilhetes e fazer um copo a corpo para buscar sensibilizar os vereadores à causa deles. Para o executivo municipal, seria menos traumático assentar essas famílias no local que já estavam do que expulsá-las e pedir reintegração de posse, evitando possíveis desgastes políticos.<ref name="AN1701">Antonio Neves. Coluna Alça de Mira. Desafetação. A Notícia, 23 de janeiro de 1990.</ref> Não havia só recém-chegados nas áreas invadidas. Alguns desses imigrantes já estavam em Joinville a quase uma década, criando raízes, e trabalhavam há anos na indústria local. Seus filhos já estudavam há anos na mesma escola.<ref name="AN2101">Antonio Neves. Coluna Alça de Mira. Projeto Polêmico. A Notícia, 23 de janeiro de 1990.</ref> | Pelo menos mil e oitocentas famílias de baixa renda seriam beneficiadas com a aprovação da lei. Como é um número altamente expressivo, durante a discussão na Câmara, moradores dessas regiões invadidas foram à CVJ entregar cartas, bilhetes e fazer um copo a corpo para buscar sensibilizar os vereadores à causa deles. Para o executivo municipal, seria menos traumático assentar essas famílias no local que já estavam do que expulsá-las e pedir reintegração de posse, evitando possíveis desgastes políticos.<ref name="AN1701">Antonio Neves. Coluna Alça de Mira. Desafetação. A Notícia, 23 de janeiro de 1990.</ref> Não havia só recém-chegados nas áreas invadidas. Alguns desses imigrantes já estavam em Joinville a quase uma década, criando raízes, e trabalhavam há anos na indústria local. Seus filhos já estudavam há anos na mesma escola.<ref name="AN2101">Antonio Neves. Coluna Alça de Mira. Projeto Polêmico. A Notícia, 23 de janeiro de 1990.</ref> | ||
O projeto contou forte lobby do prefeito Lula e do secretário de Desenvolvimento Comunitário, [[Adelor Vieira]]. Adelor entendia que os lotes não deveriam ser doados, mas vendidos a valores acessíveis. A lei deveria conter dispositivo proibindo outras regulamentações a novas invasões.<ref name="AN2501">Desinfetação. A Notícia, 23 de janeiro de 1990.</ref> | O projeto contou forte lobby do prefeito Lula e do secretário de Desenvolvimento Comunitário, [[Adelor Vieira]]. Adelor, autor do projeto, entendia que os lotes não deveriam ser doados, mas vendidos a valores acessíveis. A lei deveria conter dispositivo proibindo outras regulamentações a novas invasões.<ref name="AN2501">Desinfetação. A Notícia, 23 de janeiro de 1990.</ref> | ||
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O projeto de lei não teve vida fácil na CVJ. Cada vez que seria apreciado pelo plenário, aparecia um pedido de vistas.<ref name="AN2501"></ref> Depois, o projeto simplesmente desapareceu. Depois que [[Sérgio Silva]] pediu vistas, o projeto deixou de poder ser localizado. Silva não sabia onde ele tinha ido parar. [[Norival Raulino da Silva|Norival Silva]] tachou Sérgio Silva de irresponsável. Sem o projeto presente na sessão ordinária, o vice [[João Luiz Sdrigotti|Sdrigotti]] sugeriu ao presidente [[João Pessoa Machado|Pessoa Machado]] que adiasse a votação, o que o presidente acatou. | O projeto de lei não teve vida fácil na CVJ. Cada vez que seria apreciado pelo plenário, aparecia um pedido de vistas.<ref name="AN2501"></ref> Depois, o projeto simplesmente desapareceu. Depois que [[Sérgio Silva]] pediu vistas, o projeto deixou de poder ser localizado. Silva não sabia onde ele tinha ido parar. [[Norival Raulino da Silva|Norival Silva]] tachou Sérgio Silva de irresponsável. Sem o projeto presente na sessão ordinária, o vice [[João Luiz Sdrigotti|Sdrigotti]] sugeriu ao presidente [[João Pessoa Machado|Pessoa Machado]] que adiasse a votação, o que o presidente acatou. | ||
Como se pode imaginar, os posseiros presentes no plenário não devem ter ficado felizes com o sumiço do projeto e a adiação da votação. Então, diante da pressão dos presentes, Pessoa Machado disse que não só votaria a favor do projeto, mas que também proporia emenda para doação, e não venda dos lotes. Logo Machado, que era contrário à proposta. Waldmomiro Dordet classificou a mudança de posicionamento como uma jogada demagógica. Dordet disse que isso foi o presidente da casa deu um "mel na chupeta", para acalmar os posseiros manifestantes.<ref name>Desafetação. A Notícia, 28 de janeiro de 1990.</ref> | Como se pode imaginar, os posseiros presentes no plenário não devem ter ficado felizes com o sumiço do projeto e a adiação da votação. Então, diante da pressão dos presentes, Pessoa Machado disse que não só votaria a favor do projeto, mas que também proporia emenda para doação, e não venda dos lotes. Logo Machado, que era contrário à proposta. Waldmomiro Dordet classificou a mudança de posicionamento como uma jogada demagógica. Dordet disse que isso foi o presidente da casa deu um "mel na chupeta", para acalmar os posseiros manifestantes e evitar tumultos.<ref name>Desafetação. A Notícia, 28 de janeiro de 1990.</ref> | ||
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No dia 31 de janeiro, a Câmara se reuniu para realizar a sessão que votaria o projeto de desafetação, sessão essa que se prolongaria até por volta de uma hora da madrugada. O plenário contou com a presença de cem moradores, que só arredaram o pé dali após ver o projeto ser aprovado. | |||
A proposta de emenda de Pessoa Machado, pretendendo doar os lotes em vez de vendê-los, não conseguiu aprovação. Outra emenda, porém, foi aprovada: os fundos arrecadados com esses lotes seriam depositados em um fundo destinado à construção de equipamentos públicos nessas regiões.<ref name>Câmara aprova Projeto em Sessão Tumultuada. A Notícia, 02 de fevereiro de 1990.</ref> | |||
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Edição das 12h48min de 26 de junho de 2024
Em 1989 e anos adjacentes, durante a 11ª Legislatura, Joinville vivia intensa imigração e problemas com invasão de propriedades públicas e até mesmo privadas, incluindo terras de marinha, como manguezais. O grande fluxo migratório trouxe problemas para administração municipal, uma situação que a prefeitura sob a administração de Luiz Gomes (Lula) buscou enfrentar.
Entre os projetos de Lula para amenizar a dificuldade, estava a construção das "chalulas" casas construídas para pessoas de baixa renda, pelo projeto municipal de habitação. No início de 1990, entrou na câmara o projeto de desafetação, que buscava transferir para famílias carentes algumas propriedades municipais imóveis, já invadidas.
Pontos à Favor
Pelo menos mil e oitocentas famílias de baixa renda seriam beneficiadas com a aprovação da lei. Como é um número altamente expressivo, durante a discussão na Câmara, moradores dessas regiões invadidas foram à CVJ entregar cartas, bilhetes e fazer um copo a corpo para buscar sensibilizar os vereadores à causa deles. Para o executivo municipal, seria menos traumático assentar essas famílias no local que já estavam do que expulsá-las e pedir reintegração de posse, evitando possíveis desgastes políticos.[1] Não havia só recém-chegados nas áreas invadidas. Alguns desses imigrantes já estavam em Joinville a quase uma década, criando raízes, e trabalhavam há anos na indústria local. Seus filhos já estudavam há anos na mesma escola.[2]
O projeto contou forte lobby do prefeito Lula e do secretário de Desenvolvimento Comunitário, Adelor Vieira. Adelor, autor do projeto, entendia que os lotes não deveriam ser doados, mas vendidos a valores acessíveis. A lei deveria conter dispositivo proibindo outras regulamentações a novas invasões.[3]
Pontos Contra
Mas muitos vereadores temiam o precedente. Todo loteamento precisa ter espaços reservados para o poder público construir posteriormente instalações comunitárias, como creches, escolas, postos de saúde, etc. Outro problema residia nas novas ondas de invasões. Teriam também os novos imigrantes o direito de invadir imóveis públicos e esperar pela regularização?[1]
Tramitação Conturbada
O projeto de lei não teve vida fácil na CVJ. Cada vez que seria apreciado pelo plenário, aparecia um pedido de vistas.[3] Depois, o projeto simplesmente desapareceu. Depois que Sérgio Silva pediu vistas, o projeto deixou de poder ser localizado. Silva não sabia onde ele tinha ido parar. Norival Silva tachou Sérgio Silva de irresponsável. Sem o projeto presente na sessão ordinária, o vice Sdrigotti sugeriu ao presidente Pessoa Machado que adiasse a votação, o que o presidente acatou.
Como se pode imaginar, os posseiros presentes no plenário não devem ter ficado felizes com o sumiço do projeto e a adiação da votação. Então, diante da pressão dos presentes, Pessoa Machado disse que não só votaria a favor do projeto, mas que também proporia emenda para doação, e não venda dos lotes. Logo Machado, que era contrário à proposta. Waldmomiro Dordet classificou a mudança de posicionamento como uma jogada demagógica. Dordet disse que isso foi o presidente da casa deu um "mel na chupeta", para acalmar os posseiros manifestantes e evitar tumultos.[4]
A Votação
No dia 31 de janeiro, a Câmara se reuniu para realizar a sessão que votaria o projeto de desafetação, sessão essa que se prolongaria até por volta de uma hora da madrugada. O plenário contou com a presença de cem moradores, que só arredaram o pé dali após ver o projeto ser aprovado. A proposta de emenda de Pessoa Machado, pretendendo doar os lotes em vez de vendê-los, não conseguiu aprovação. Outra emenda, porém, foi aprovada: os fundos arrecadados com esses lotes seriam depositados em um fundo destinado à construção de equipamentos públicos nessas regiões.[5]
Pesquisador: Patrik Roger Pinheiro - Historiador | Registro Profissional 181/SC
Como Citar |
Referência
PINHEIRO, Patrik Roger. Lei de Desafetação. Memória CVJ, 2023. Disponível em: <https://memoria.camara.joinville.br/index.php?title=Lei_de_Desafeta%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em: 9 de abril de 2025. |
Citação com autor incluído no texto
Pinheiro (2023) |
Citação com autor não incluído no texto
(PINHEIRO, 2023) |
Referências
- ↑ Ir para: 1,0 1,1 Antonio Neves. Coluna Alça de Mira. Desafetação. A Notícia, 23 de janeiro de 1990.
- ↑ Antonio Neves. Coluna Alça de Mira. Projeto Polêmico. A Notícia, 23 de janeiro de 1990.
- ↑ Ir para: 3,0 3,1 Desinfetação. A Notícia, 23 de janeiro de 1990.
- ↑ Desafetação. A Notícia, 28 de janeiro de 1990.
- ↑ Câmara aprova Projeto em Sessão Tumultuada. A Notícia, 02 de fevereiro de 1990.