Mudanças entre as edições de "Lei de Desafetação"

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[[Arquivo:Waldomir dordet presidente lom.jpg|158px|left|miniaturadaimagem|Para Dordet, Pessoa Machado foi demagogo: "Melzinho na chupeta" para acalmar a população.(Foto: A Notícia, 17/01/1990.]]
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O projeto de lei não teve vida fácil na CVJ. Cada vez que seria apreciado pelo plenário, aparecia um pedido de vistas.<ref name="AN2501"></ref> Depois, o projeto simplesmente desapareceu. Depois que [[Sérgio de Souza Silva|Sérgio Silva]] pediu vistas, o projeto deixou de poder ser localizado. Silva não sabia onde ele tinha ido parar. [[Norival Raulino da Silva|Norival Silva]] tachou Sérgio Silva de irresponsável. Sem o projeto presente na sessão ordinária, o vice [[João Luiz Sdrigotti|Sdrigotti]] sugeriu ao presidente [[João Pessoa Machado|Pessoa Machado]] que adiasse a votação, o que o presidente acatou.
O projeto de lei não teve vida fácil na CVJ. Cada vez que seria apreciado pelo plenário, aparecia um pedido de vistas.<ref name="AN2501"></ref> Depois, o projeto simplesmente desapareceu. Depois que [[Sérgio de Souza Silva|Sérgio Silva]] pediu vistas, o projeto deixou de poder ser localizado. Silva não sabia onde ele tinha ido parar. [[Norival Raulino da Silva|Norival Silva]] tachou Sérgio Silva de irresponsável. Sem o projeto presente na sessão ordinária, o vice [[João Luiz Sdrigotti|Sdrigotti]] sugeriu ao presidente [[João Pessoa Machado|Pessoa Machado]] que adiasse a votação, o que o presidente acatou.



Edição das 13h01min de 27 de junho de 2024

Em 1989 e anos adjacentes, durante a 11ª Legislatura, Joinville vivia intensa imigração e problemas com invasão de propriedades públicas e até mesmo privadas, incluindo terras de marinha, como manguezais. O grande fluxo migratório trouxe problemas para administração municipal, uma situação que a prefeitura sob a administração de Luiz Gomes (Lula) buscou enfrentar.

Entre os projetos de Lula para amenizar a dificuldade, estava a construção das "chalulas" casas construídas para pessoas de baixa renda, pelo projeto municipal de habitação. No início de 1990, entrou na câmara o projeto de desafetação, que buscava transferir para famílias carentes algumas propriedades municipais imóveis, já invadidas.

Pontos à Favor

Pelo menos mil e oitocentas famílias de baixa renda seriam beneficiadas com a aprovação da lei. Como é um número altamente expressivo, durante a discussão na Câmara, moradores dessas regiões invadidas foram à CVJ entregar cartas, bilhetes e fazer um copo a corpo para buscar sensibilizar os vereadores à causa deles. Para o executivo municipal, seria menos traumático assentar essas famílias no local que já estavam do que expulsá-las e pedir reintegração de posse, evitando possíveis desgastes políticos.[1] Não havia só recém-chegados nas áreas invadidas. Alguns desses imigrantes já estavam em Joinville a quase uma década, criando raízes, e trabalhavam há anos na indústria local. Seus filhos já estudavam há anos na mesma escola.[2]

O projeto contou forte lobby do prefeito Lula e do secretário de Desenvolvimento Comunitário, Adelor Vieira. Adelor, autor do projeto, entendia que os lotes não deveriam ser doados, mas vendidos a valores acessíveis. A lei deveria conter dispositivo proibindo outras regulamentações a novas invasões.[3]

Pontos Contra

Mas muitos vereadores temiam o precedente. Todo loteamento precisa ter espaços reservados para o poder público construir posteriormente instalações comunitárias, como creches, escolas, postos de saúde, etc. Outro problema residia nas novas ondas de invasões. Teriam também os novos imigrantes o direito de invadir imóveis públicos e esperar pela regularização?[1]

Tramitação Conturbada

Diante de um plenário cheio, Pessoa Machado decidiu mudar de posição.
Para Dordet, Pessoa Machado foi demagogo: "Melzinho na chupeta" para acalmar a população.(Foto: A Notícia, 17/01/1990.

O projeto de lei não teve vida fácil na CVJ. Cada vez que seria apreciado pelo plenário, aparecia um pedido de vistas.[3] Depois, o projeto simplesmente desapareceu. Depois que Sérgio Silva pediu vistas, o projeto deixou de poder ser localizado. Silva não sabia onde ele tinha ido parar. Norival Silva tachou Sérgio Silva de irresponsável. Sem o projeto presente na sessão ordinária, o vice Sdrigotti sugeriu ao presidente Pessoa Machado que adiasse a votação, o que o presidente acatou.

Como se pode imaginar, os posseiros presentes no plenário não devem ter ficado felizes com o sumiço do projeto e a adiação da votação. Então, diante da pressão dos presentes, Pessoa Machado disse que não só votaria a favor do projeto, mas que também proporia emenda para doação, e não venda dos lotes. Logo Machado, que era contrário à proposta. Waldmomiro Dordet classificou a mudança de posicionamento como uma jogada demagógica. Dordet disse que isso foi o presidente da casa deu um "mel na chupeta", para acalmar os posseiros manifestantes e evitar tumultos.[4]

A Votação

Desafetação: Casa cheia para a votação. (A Notícia, 02/02/1990)

No dia 31 de janeiro, a Câmara se reuniu para realizar a sessão que votaria o projeto de desafetação, sessão essa que se prolongaria até um pouco antes de uma hora da madrugada. O plenário contou com a presença de cem moradores, que só arredaram o pé dali após ver o projeto ser aprovado. A proposta de emenda de Pessoa Machado, pretendendo doar os lotes em vez de vendê-los, não conseguiu aprovação. Outra emenda, porém, foi aprovada: os fundos arrecadados com esses lotes seriam depositados em um fundo destinado à construção de equipamentos públicos nessas regiões. A Sessão foi tumultuada, e Norival Silva, contrário ao projeto, pediu que os moradores ali presentes não votassem nele caso ele fosse candidato, porque ele não concordava com aquilo: "Não votem em mim, e muito menos neles", disse ele, se referindo aos que apoiavam o projeto de lei. Para Norival, os vereadores estavam mais preocupados em ações eleitoreiras do que de estado.[5][6]

O jornalista Antonio Neves descreveu a sessão como um embate de alto nível entre o líder do oposicionista PMDB, Sérgio Silva, e o líder do governo, Nestor Westrupp. Sérgio Silva, por exemplo, apresentava consecutiva emendas ao projeto, obrigando a novas rediscussões, retardando a votação.[7]

O projeto foi aprovado, se tornando a lei 2378/1990,[6] mesmo com os votos contrários de Silvio Fortunato, Teresa Campregher Moreira, Décio Krelling, Altair Pereira, Renato Liebl e Sérgio Silva.ref>Antonio Neves. Coluna Alça de Mira. Esclarecem. A Notícia, 14 de fevereiro de 1990.</ref>



Pesquisador: Patrik Roger Pinheiro - Historiador | Registro Profissional 181/SC

Como Citar
Referência

PINHEIRO, Patrik Roger. Lei de Desafetação. Memória CVJ, 2023. Disponível em: <https://memoria.camara.joinville.br/index.php?title=Lei_de_Desafeta%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em: 27 de abril de 2025.

Citação com autor incluído no texto

Pinheiro (2023)

Citação com autor não incluído no texto

(PINHEIRO, 2023)


Referências

  1. 1,0 1,1 Antonio Neves. Coluna Alça de Mira. Desafetação. A Notícia, 23 de janeiro de 1990.
  2. Antonio Neves. Coluna Alça de Mira. Projeto Polêmico. A Notícia, 23 de janeiro de 1990.
  3. 3,0 3,1 Desinfetação. A Notícia, 23 de janeiro de 1990.
  4. Desafetação. A Notícia, 28 de janeiro de 1990.
  5. Antonio Neves. Coluna Alça de Mira. Projeto Polêmico. A Notícia, 23 de janeiro de 1990.
  6. 6,0 6,1 Câmara aprova Projeto em Sessão Tumultuada. A Notícia, 02 de fevereiro de 1990.
  7. Antonio Neves. Coluna Alça de Mira. Rescaldo da Sessão (2). A Notícia, 02 de fevereiro de 1990.