Mudanças entre as edições de "Greve de 1992"
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[[Arquivo:11 legislatura greve 1992c.jpg|288px|left|miniaturadaimagem|Lula explica na Câmara porque não pode dar o aumento desejado pelos servidores. (Foto: | [[Arquivo:11 legislatura greve 1992c.jpg|288px|left|miniaturadaimagem|Lula explica na Câmara porque não pode dar o aumento desejado pelos servidores. (Foto: Ebnder Gonçalves/A Notícia 06/10/1992)]] | ||
[[Arquivo:11 legislatura greve 1992d.jpg|288px|miniaturadaimagem| | [[Arquivo:11 legislatura greve 1992d.jpg|288px|miniaturadaimagem|Servidores acamparam na Câmara, que na época ficava no mesmo prédio que o Besc, na rua 9 de Março. (Foto: Davi Zocoli/A Notícia 18/09/1992)]] | ||
Em 11 de setembro muitos servidores cruzaram os braços. Estava deflagrada a greve. Paralisação talvez não defina muito bem o que muitos deles realmente fizeram, já que houve fortes manifestações e piquetes em frente a instituições públicas. Em 17 de agosto, a prefeitura comunicou o Sinsej que a justiça determinou a suspensão dos piquetes. Ele também informou que nem o caixa, nem a lei já permitiam o aumento de 125% desejado pelos servidores. Em período eleitoral somente a reposição inflacionária poderia ocorrer.<ref>Prefeito Diz Porque Não pode dar Aumento. A Notícia, 18 de setembro de 1992.</ref> | Em 11 de setembro muitos servidores cruzaram os braços. Estava deflagrada a greve. Paralisação talvez não defina muito bem o que muitos deles realmente fizeram, já que houve fortes manifestações e piquetes em frente a instituições públicas. Em 17 de agosto, a prefeitura comunicou o Sinsej que a justiça determinou a suspensão dos piquetes. Ele também informou que nem o caixa, nem a lei já permitiam o aumento de 125% desejado pelos servidores. Em período eleitoral somente a reposição inflacionária poderia ocorrer.<ref>Prefeito Diz Porque Não pode dar Aumento. A Notícia, 18 de setembro de 1992.</ref> | ||
No dia 24 de | No dia 24 de setembro Teresa acabou vivendo em encontro de família um tanto inusitado: Os servidores mantinham piquete na frente da prefeitura, e junto deles, estava o marido de Teresa, Altino, que era servidor público. Ela também estava lá, qual representante do poder legislativo, sendo vice-presidente da mesa diretora da Câmara. Mas havia decisão da justiça que proibia o uso de piquetes. Para cumprir a determinação judicial, apareceu ali o filho de Teresa, o tenente Adilson Moreira, comandando o pelotão de choque da PM que removeria os piquetes. Só escapou do encontro familiar a filha Liamaraes, que qual professora, decidiu continuar dando aula naquele dia.<ref>Antonio Neves. Coluna Alça de Mira. Na Retranca. A Notícia, 25 de setembro de 1992.</ref> | ||
Os servidores não queriam menos, e o prefeito dizia que não podia pagar mais. Com o impasse, a greve continuava. Em 30 de setembro, durante a sessão ordinária na Câmara, alguns servidores decidiram: acampariam na CVJ. Os funcionários da casa legislativa passaram a assistir à entrada de colhões, malas e afins, enquanto o diretor-geral, Cláudio Pereira Ramos, tentava retirar aqueles objetos dali. Quase foi agredido. A sessão não teve quórum. | Os servidores não queriam menos, e o prefeito dizia que não podia pagar mais. Com o impasse, a greve continuava. Em 30 de setembro, durante a sessão ordinária na Câmara, alguns servidores decidiram: acampariam na CVJ. Os funcionários da casa legislativa passaram a assistir à entrada de colhões, malas e afins, enquanto o diretor-geral, Cláudio Pereira Ramos, tentava retirar aqueles objetos dali. Quase foi agredido. A sessão não teve quórum. | ||
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<blockquote>''Eu compreendo a situação dos funcionários em greve. Eles não estão fazendo nada. Eles estão pedindo uma coisa que é justa.''</blockquote> | <blockquote>''Eu compreendo a situação dos funcionários em greve. Eles não estão fazendo nada. Eles estão pedindo uma coisa que é justa.''</blockquote> | ||
O presidente do Sinsej afirmou que os servidores ficariam acampados na Câmara, fazendo vigília, até que o prefeito tomasse uma posição.<ref>Servidor Acampa na Câmara. A Notícia, 1 de | O presidente do Sinsej afirmou que os servidores ficariam acampados na Câmara, fazendo vigília, até que o prefeito tomasse uma posição.<ref>Servidor Acampa na Câmara. A Notícia, 1 de outubro de 1992.</ref> De fato, cinco dias depois ainda haviam dezenove servidores "dormindo, cozinhando e lavando roupa na Câmara", como disse Abélio Tavares, um dos servidores ali acampados.<ref>Servidores Continuam Acampados na Câmara. A Notícia, 06 de outubro de 1992.</ref> | ||
Edição das 16h16min de 18 de março de 2025
ARTIGO EM CONSTRUÇÃO
Em 1992, durante a 11ª Legislatura, foi deflagrada uma greve de 40 dias pelos servidores públicos municipais em Joinville. Era um contexto de inflação galopante e perdas do poder aquisitivo mesmo diante de aumentos salariais regulares para reajustar as perdas inflacionárias. Os servidores, que demonstravam descontentamento já por meses, aderiram à greve organizada pelo sindicato da categoria.
Antecedentes
Junho
Em junho de 1992, o prefeito Lula encaminhou mensagem à Câmara solicitando um reajuste de 25%. Os servidores, porém, realizaram uma assembleia, e nela rejeitaram essa proposta. Percorrendo ruas centrais e realizando manifestações, principalmente na frente da prefeitura, os servidores carregavam faixas, sopravam apitos e mantinham um forte sistema de som ligado.
Prefeito e sindicato se reuniram na Câmara, sem fechar acordo. O prefeito alegava ser impossível dar mais que 25%, e os servidores achavam que deveria ter sido apresentada alguma contraproposta aos 73% por eles solicitados.[1] Não foi um fim de encontro tranquilo. Na saída da Câmara, o prefeito foi ofendido verbalmente por alguns grevistas, revidou e a confusão se armou. A prefeitura depois afirmou que pessoas ligadas a Central Única dos Trabalhadores (CUT) agitaram os ânimos, o sindicato (Sinsej) jogou a culpa em ex-servidores.[2] Segundo o jornalista Toninho Neves, A CUT colocou seu carro de som de modo a trancar a saída da Câmara. Armada a emboscada, Neves segue dizendo que:[3]
Luiz Gomes encarou os agressores que covardemente armaram uma emboscada no corredor de saída da Câmara.
O tempo para resolver o dilema se esgotava, pois com o início do período eleitoral, dali a dos dias, impediria aumentos maiores que as reposições inflacionárias. Uma proposta de 30% de aumento partiu do executivo, mas em face dos 73% desejados pelos servidores, novamente não houve acordo e os servidores paralisaram por 24 horas.[4]
Julho
Nova queda de braço ocorreu em julho. OS servidores queriam 12% de reajuste e o Sinsej buscou uma tática já emprega pela 11ª legislatura: condicionar a aprovação do pedido de suplementação orçamentária ao aumento solicitado pelos servidores.[5] A prefeitura pedia ao legislativo a liberação de 26 bilhões de cruzeiros. A Sessão Ordinária que votaria esse pedido não durou nem um minuto. Presidida pela vereadora Teresa Campregher Moreira, a sessão não tinha quórum.[6] Por fim, a Câmara aprovou um aumento de 30% mais os 12,8% solicitados anteriormente pelos servidores. Enquanto tal lei ia para sanção ou veto do prefeito, ainda havia a questão da suplementação orçamentária.
Nova sessão ocorreu em 21 de julho, dessa vez com quórum, mas sem consenso para votar a suplementação, deixando a prefeitura de pires na mão.[7] Para piorar, alegando inconstituvcionalidade, o prefeito vetou os 12.8%, ficando só com os 30% consensuais entre Câmara e executivo. Segundo a prefeitura, caso incluísse os 12,8%, o executivo chegaria com 91,6% da arrecadação de outubro comprometida só com salários, e isso iria para 102,3% em novembro e 110.4% em dezembro.[8] No dia 28 de julho, a Câmara aprovou finalmente a suplementação, para desgosto do Sinsej, que disse que os vereadores não honraram o compromisso assumido com a categoria.[9]
Agosto
Em agosto, o veto do prefeito foi analisado pela Câmara, que decidiu rejeitá-lo por dezesseis votos contra um. Agora, o aumento poderia ser promulgado pelo legislativo, mas aparentemente não foi.[nota 1][10] A greve estava vindo!
A Greve
Em 11 de setembro muitos servidores cruzaram os braços. Estava deflagrada a greve. Paralisação talvez não defina muito bem o que muitos deles realmente fizeram, já que houve fortes manifestações e piquetes em frente a instituições públicas. Em 17 de agosto, a prefeitura comunicou o Sinsej que a justiça determinou a suspensão dos piquetes. Ele também informou que nem o caixa, nem a lei já permitiam o aumento de 125% desejado pelos servidores. Em período eleitoral somente a reposição inflacionária poderia ocorrer.[11]
No dia 24 de setembro Teresa acabou vivendo em encontro de família um tanto inusitado: Os servidores mantinham piquete na frente da prefeitura, e junto deles, estava o marido de Teresa, Altino, que era servidor público. Ela também estava lá, qual representante do poder legislativo, sendo vice-presidente da mesa diretora da Câmara. Mas havia decisão da justiça que proibia o uso de piquetes. Para cumprir a determinação judicial, apareceu ali o filho de Teresa, o tenente Adilson Moreira, comandando o pelotão de choque da PM que removeria os piquetes. Só escapou do encontro familiar a filha Liamaraes, que qual professora, decidiu continuar dando aula naquele dia.[12]
Os servidores não queriam menos, e o prefeito dizia que não podia pagar mais. Com o impasse, a greve continuava. Em 30 de setembro, durante a sessão ordinária na Câmara, alguns servidores decidiram: acampariam na CVJ. Os funcionários da casa legislativa passaram a assistir à entrada de colhões, malas e afins, enquanto o diretor-geral, Cláudio Pereira Ramos, tentava retirar aqueles objetos dali. Quase foi agredido. A sessão não teve quórum.
Durival, presidente da casa, não se incomodou com os que se acomodavam para pernoitar ali. Disse ele:
Eu compreendo a situação dos funcionários em greve. Eles não estão fazendo nada. Eles estão pedindo uma coisa que é justa.
O presidente do Sinsej afirmou que os servidores ficariam acampados na Câmara, fazendo vigília, até que o prefeito tomasse uma posição.[13] De fato, cinco dias depois ainda haviam dezenove servidores "dormindo, cozinhando e lavando roupa na Câmara", como disse Abélio Tavares, um dos servidores ali acampados.[14]
Pesquisador: Patrik Roger Pinheiro - Historiador | Registro Profissional 181/SC
Como Citar |
Referência
PINHEIRO, Patrik Roger. Greve de 1992. Memória CVJ, 2025. Disponível em: <https://memoria.camara.joinville.br/index.php?title=Greve_de_1992>. Acesso em: 10 de abril de 2025. |
Citação com autor incluído no texto
Pinheiro (2025) |
Citação com autor não incluído no texto
(PINHEIRO, 2025) |
Notas
- ↑ Artigos de jornal posteriores (A Notícia, 18/09/1992) evidenciam que os 12% (ou 12,8%) ainda não haviam sido pagos, e o site Leis Municipais não contém uma lei assinada pelo presidente da Câmara, decretando o aumento. Isso deixa dúvidas sobre o que ocorreu com o veto rejeitado.
Referências
- ↑ Servidores Tentam Ganhar Simpatia para Sua Causa. A Notícia, 26 de junho de 1992.
- ↑ Duas Versões para o Mesmo Incidente. A Notícia, 27 de junho de 1992.
- ↑ Antonio Neves. Coluna Alça de Mira. Na Retranca. A Notícia, 27 de junho de 1992.
- ↑ Servidores Recusam 30% e Param de Novo. A Notícia, 1 de julho de 1992.
- ↑ Antonio Neves. Coluna Alça de Mira. Na Retranca. A Notícia, 14 de julho de 1992.
- ↑ Sessão da Câmara Não Dura Nem Um minuto. A Notícia, 15 de julho de 1992.
- ↑ Pela Segunda Vez Vereadores Suspendem Uma Votação. A Notícia, 22 de julho de 1992.
- ↑ Câmara Decide Sobre Aumento para Servidor. A Notícia, 23 de julho de 1992.
- ↑ Câmara Aprova Projeto de Suplementação de Verbas. A Notícia, 29 de julho de 1992.
- ↑ Antonio Neves. Coluna Alça de Mira. Derrubaram. A Notícia, 04 de agosto de 1992.
- ↑ Prefeito Diz Porque Não pode dar Aumento. A Notícia, 18 de setembro de 1992.
- ↑ Antonio Neves. Coluna Alça de Mira. Na Retranca. A Notícia, 25 de setembro de 1992.
- ↑ Servidor Acampa na Câmara. A Notícia, 1 de outubro de 1992.
- ↑ Servidores Continuam Acampados na Câmara. A Notícia, 06 de outubro de 1992.
- ↑ Servidores Recusam 30% e Param de Novo. A Notícia, 1 de julho de 1992.
- ↑ Antonio Neves. Coluna Alça de Mira. Na Retranca. A Notícia, 23 de junho de 1989.