A Questão de Limites em 1876
Na segunda metade do século 19, Joinville viu reacender a afamada Questão de Limites, que colocava em lados opostos o Paraná e Santa Catarina. Com dúvidas sobre a delimitação exata dos limites, os dois estados disputavam muitas terras e vilas, requerendo para si o direito de governá-las.
Como o Paraná entendia que a Serra era um limite natural que demarcava a divisão entre as duas províncias, ele afirmava que Campo Alegre e São Bento do Sul lhe pertenciam. Por isso, durante a 2ª Legislatura monárquica de Joinville o governo paranaense decidiu colocar no local denominado Encruzilhada, em Campo Alegre, uma barreira fiscal para cobrar tributos provinciais de produtos que fluíam da Serra para Joinville e São Franscisco do Sul. No entanto, São Bento integrava a Colônia Dona Francisca e tal ponto fiscal cortava em duas partes a colônia.
O Telegrama do diretor da Colônia Dona Francisca à Presidência da Província
Entre os viajantes parados pelo posto fiscal paranaense, esteve Frederico Brüstlein, na ocasião diretor da Colônia Dona Francisca e presidente da Câmara de Joinville. Indignado, Brüstlein enviou um telegrama ao Presidente da Província, Visconde de Taunay, que dizia:
Illmo. e Exmo. Snr. Alfredo d'Escragnolle Taunay.
Communico à V. Excia. que na minha volta de São Bento, achei no limite Oeste das terras do Príncipe de Joinville, sobre a Estrada Dona Francisca, individuos armados, fardados e não fardados, exigindo com arma na mão peagem dos viajantes, ameaçando estes, negando-lhes a passagem por esta estrada, obrigando-os a tomar a antiga estrada em pessimo estado, onde se acha a barreira de Encruzilhada. Disto resultão graves prejuízos para a Direcção e para os colonos de São Bento. Esta provocação por parte do Paraná desafia as nossas povoações que conhecem a ordem do Ministerio do Imperio de 14 de Dezembro e será possivel evitar graves conflitos até lucta armada e derramamento de sangue. Peço a V. Excia, a devida protecção para os viajantes entre os districtos de São Bento e Joinville".
O Telegrama da Câmara de Joinville à Presidência da Província
Em 25 de Junho de 1876 a Câmara de Joinville enviou um telegrama ao presidente da Província de Santa Catarina, Visconde de Taunay, de teor semelhante ao de Brüstlein, informando que os viajantes da estrada Dona Francisca estavam sendo vítimas de violência. Sem dizer claramente quem eram os criminosos, o telegrama se limitava a dizer que os salteadores estavam armados com pistolas e espingardas, e eram homens com e sem fardamento. Vendo que era iminente um derramamento de sangue, a Câmara pedia medidas protetivas enérgicas para acabar com os abusos cometidos.[1]
O telegrama de Joinville não é claro ao identificar os infratores. Na obra "Aconteceu Nos Ervais", Antonio Dias Mafra informa animosidade entre viajantes São Bento-Joinville e os funcionários da barreira paranaense. Para citar um exemplo, no final de maio do ano de 1876 o responsável pela construção da estrada Dona Francisca reuniu um grupo de 150 pessoas, entre trabalhadores da estrada e colonos imigrantes, cercou a agência fiscal e ordenou ao agente da Encruzilhada “que era preciso fazer retirar as duas placas colocadas no desvio, deixando o povo passar livremente sem pagamento de imposto algum.”[2] Os homens fardados citados no telegrama da Câmara joinvilense podem ser os funcionários do governo paranaense destacados para garantir a segurança dos agentes fiscais daquela província.
A Resposta do Governo da Província
O governo da Província respondeu informando que havia solicitado providências ao Governo Central, recomendou prudência e informou que brevemente enviaria um destacamento para conter a violência.[3] [4]
Pesquisador: Patrik Roger Pinheiro - Historiador | Registro Profissional 181/SC
Como Citar |
Referência
PINHEIRO, Patrik Roger. A Questão de Limites em 1876. Memória CVJ, 2023. Disponível em: <https://memoria.camara.joinville.br/index.php?title=A_Quest%C3%A3o_de_Limites_em_1876>. Acesso em: 6 de dezembro de 2024. |
Citação com autor incluído no texto
Pinheiro (2023) |
Citação com autor não incluído no texto
(PINHEIRO, 2023) |
Referências
- ↑ Telegrama nº 183, de 26 de junho de 1876, em guarda do Arquivo Histórico de Santa Catarina.
- ↑ Antonio Dias Mafra. Aconteceu nos Ervais: A Disputa Territorial Entre Paraná e Santa Catarina pela Exploração da Erva-Mate – Região Sul do Vale do Rio Negro. Orientador: Doutor Sandino Hoff. 2008. Dissertação (Mestrado) – Mestre em Desenvolvimento Regional, Universidade do Contestado - UnC.
- ↑ Telegrama de 26 de junho de 1876, em resposta ao telegrama nº 183, em guarda do Arquivo Histórico de Santa Catarina.
- ↑ Ata da Sessão Ordinária de 3 de julho de 1876, em guarda do Arquivo Histórico de Joinville.