A Quase Emancipação de Pirabeiraba em 1953
Em 1953, durante a 2ª Legislatura de Joinville, o governo de Santa Catarina planejou desmembramentos em série de vários distritos catarinenses para criar pelo menos 42 novos municípios no estado. O plano fora elaborado pelo diretório do CRG - Conselho Regional de Geografia. Uns diziam que o objetivo era enfraquecer centros de poder de adversários políticos, outros alegavam que a finalidade era permitir que os distritos, elevados à cidade, tivessem melhor condição de criar seus próprios fomentos econômicos, aumentando assim a arrecadação. Para Joinville, a notícia significava a possibilidade de perder Pirabeiraba e região.[1]
Uma Comissão Estadual Visita Joinville

Para visitar as cidades e distritos envolvidos, uma comissão Especial fora criada, composta pelos deputados Wilmar Orlando Dias (PSD-1945), Clodomiro Moreira (UDN) e Vitor Peluso (Engenheiro, Diretor do CRG).
Em 4 de março de 1953, tal comissão chegou à Joinville e realizou primeiro uma reunião em Pirabeiraba, e depois outra na prefeitura. Questionado pela reportagem do Jornal de Joinville, o deputado Clodomiro Moreira afirmou que em Pirabeiraba uns aprovavam o desmembramento, outros não, mas a maioria parecia não se agradar da ideia. No Distrito-Sede a reprovação era ainda mais forte.[2]
Rejeitadas Emendas à Constituição Estadual
Uma matéria do Jornal de Joinville, de 16 de julho de 1953, informava que para que as emancipações políticas fossem possíveis, os candidatos a novos municípios deviam preencher certos requisitos que dificultavam muito os desmembramentos. Por isso, a bancada da UDN indicou mudanças para a Constitução Estadual então Vigente. Porém, a UDN enfrentou uma obstinada oposição do PSD.[3]
A matéria não cita as dificuldades que existiam para os desmembramentos. O artigo 96 da constituição estadual de 1947 previa o seguinte:
Art. 96 - São condições essenciais para a criação de Município: I - população mínima de 20 mil habitantes; II - renda mínima de Cr$ 300.000,000.
O PSD não queria á redução no índice populacional exigidos para a criação de novos municípios porque alegava que municípios enfraquecidos não eram do interesse do estado.[4]
Aprovadas Emendas à Constituição Estadual
No entanto, o deputado Lenoir Vargas Ferreira, que foi vereador em Chapecó, propôs facilitar a criação de municípios pelo menos na região oeste, fronteiriça com o estrangeiro, por sua excepcionalidade.[5] A "emenda Vargas Ferreira" eliminou os requisitos do artigo 96 da constituição estadual para localidades distantes não mais de 90 quilômetros da fronteira.[6]
A Emancipação de Pirabeiraba
Os deputados da situação e o governador Bornhausen passaram a atacar os pessedistas na região da Capital do estado e no Oeste, afirmando que estes eram contrários à criação de municípios.[7] POr isso, em dezembro de 1953, os pessedistas foram ao contra-ataque e propuseram a criação de 13 municípios, num projeto que definia a espera por eleições, em vez da nomeação de prefeitos por parte do governador. O projeto não agradou os governistas, que abandonaram a votação para causar falta de quórum.[8]
A Constitução Estadual não fora alterada, mas isso não impediu que em dezembro, Eugênio Gilgen (PSD-1945), morador de Pirabeiraba, apresentasse na Câmara de Vereadores um projeto de emancipação daquele distrito.
A oposição, com seus 4 pessedistas, unidos a um vereador do PTB e um udenista dissidente, conseguiu 6 votos. Votaram a favor do projeto, junto com o proponente: Geraldo Wetzel (PSD), Gustavo Schossland (UDN), Henrique Schneider Júnior (PSD), José Américo Dias Barreto (PSD), Mauzirio Moreira (PTB) - 6 votos.
Votaram Contra o projeto todos os udenistas (com excessão do dissidente já citado): Arno Waldemar Döhler, Bernardo Tank, Arthur Eberhardt, Paulo Henk, Waldemiro Palhares e Paulo Scholz - 6 votos.
Assim, os dois vereadores de Pirabeiraba (Arthur e Gilgen) evidenciaram posições distintas quanto a elevação daquele distrito e protagonizaram as discussões por um momento. Arthur Eberhardt trouxe consigo um abaixo-assinado de 1050 assinaturas de moradores da região para mostrar que os lá residentes não desejam ainda a emancipação política. Gilgen disse que os que assinaram o documento já tinham mudado de opinião depois disso e passaram a ter simpatia pela emancipação.
Com o empate, o voto de qualidade caiu sobre o presidente da casa, Alfredo Soares Pereira. Diferente de Mauziro, seu companheiro de partido, Alfredo votou contra o projeto, rejeitando-o portanto. Entre seus argumentos, Alfredo disse que seria lamentável Joinville perder "seu celeiro cujos produtos iriam depois fazer falta" a Joinville. Nisso ele foi aparteado por Weztel, que perguntou se depois iriam construir um muro que impedisse a passagem de produtos de um lado para outro.[9]
A situação foi um tanto inusitada, porque eram justamente os udenistas que fizeram campanha para as emancipações pelo estado, e os pessedistas foram os que travaram a pauta na Assembleia Legislativa. Agora em Joinville, os pessedistas queriam a emancipação de Pirabeiraba, e foram os udenistas que impediram isso.[7]
Joinville não decidiria sozinho tal situação. A criação de novos municípios era, como é hoje, de alçada do poder estadual. Porém, a cidade e o distrito envolvidos eram seriamente ouvidos e a votação na Câmara de Vereadores já tinha praticamente selado o assunto. Resta saber se o PSD local realmente queria a emancipação de Pirabeiraba ou só paroveitou mais uma chance de alfinatar os Udenistas, no seu contra-ataque ao argumento de que os pessedistas não queriam criar novos municípios.
O Desfecho do tema pelo Estado
Quinze foram os municípios criados pelo estado nessa nesse contexto: Herval Do Oeste, Sombrio, Presidente Getúlio, Seara, Papanduva, Xanxerê, Xaxi, Dionisio Cerqueira, Saõ Miguel do Oeste, São Carlos, Palmitos, Itapiranga, Rio Negrinho e Braço do Norte.[10]
Pesquisador: Patrik Roger Pinheiro - Historiador | Registro Profissional 181/SC
Como Citar |
Referência
PINHEIRO, Patrik Roger. A Quase Emancipação de Pirabeiraba em 1953. Memória CVJ, 2023. Disponível em: <https://memoria.camara.joinville.br/index.php?title=A_Quase_Emancipa%C3%A7%C3%A3o_de_Pirabeiraba_em_1953>. Acesso em: 12 de abril de 2025. |
Citação com autor incluído no texto
Pinheiro (2023) |
Citação com autor não incluído no texto
(PINHEIRO, 2023) |
Referências
- ↑ Joinville Fadada a Perder o Distrito de Pirabeiraba. Jornal de Joinville, 01 de fevereiro de 1953.
- ↑ Ir para: 2,0 2,1 Não Vê Joinville com Simpatia a Perda do Distrito de Pirabeiraba. Jornal de Joinville, 5 de março de 1953.
- ↑ Rejeitadas as Emendas e Mortas as Esperanças de Numerosas Populações. Jornal de Joinville, 16 de julho de 1953.
- ↑ O PSD e a Criação de Novos Municípios. A Notícia, 3 de dezembro de 1953.
- ↑ Criação de Novos Municípios na Fronteira com a Argentina. A Notícia, 10 de outubro de 1953.
- ↑ Lei Constitucional Nº1. 21 de outubro de 1953.
- ↑ Ir para: 7,0 7,1 A UDN contra os Municípios. O Estado, de Florianópolis. Edição 11786, de 22 de dezembro de 1953. Visitado em 27/10/2021
- ↑ O PSD propõe a Criação de 13 Novos Municípios. A Notícia, 15 de dezembro de 1953.
- ↑ A Criação do Município de Pirabeiba. A Notícia, 17 de dezembro de 1953.
- ↑ Terminou Afinal a Batalha da Criaçao dos Novos Municípios Catarinenses. Jornal de Jonville, 19 de dezembro de 1953.