Proclamação da República em Joinville

De Memória CVJ
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Uma Proclamação Não Tão Inesperada Assim

Será que Joinville foi pega de surpresa pela proclamação da república? Nem tanto, para alguns. Alfredo Esteves, que foi um dos iniciadores do partido republicano em Joinville, se encontrava no Rio de Janeiro em Novembro de 1889. Em carta dirigida ao também republicano Ignacio Bastos, o correligionário dizia que alguma coisa que favorecia a república estava para acontecer.[1] Pelo menos os republicanos estavam à espera de algum acontecimento.

A Notícia da Proclamação Chega a Joinville

Inácio Bastos, o primeiro em Joinville a saber da Proclamação.

Pelo que se relata, o primeiro cidadão em Joinville a saber da proclamação foi Ignacio Bastos, beneficiado pelo fato de ser telegrafista. Às 18h recebeu Bastos uma informação vinda de Morretes, dando conta da proclamação ocorrida de manhã do Rio de Janeiro. Um telegrama do governo provisório, assinado por Quintino Bocaiúva, Benjamim Constant e Deodoro da Fonseca davam crédito à informação.

Depois disso, Bastos encontrou Victorino de Souza Bacellar no escritório de Ernesto Canac, que se localizava na esquina das ruas Princesa Isabel e do Príncipe. Pela fisionamia de Bastos, os outros dois sabiam que algo muito importante estava ocorrendo mas não calcularam que a república poderia já ter sido proclamada.[1] Então outros foram sendo gradativamente avisados. Às 18h45 começava o estouro de rojões. Comentou Plácido Olímpio de Oliveira:

João Leal, impaciente, ás seis e três quartos saudou a nova era republicana, queimando os primeiros rojões sob os céus da Pacata ex-Colônia, defronte ao Hotel Ipiranga, na antiga rua d’Agua, hoje Abdon Batista. Pouco depois a foguetada era correspondida da casa de Canac. As ruas, momentos após o espoucar dos rojões, sob o lusco fusco da quela tarde memorável e histórica, regorgitavam de gente. Grupos comentavam o acontecimento. Enquanto isso na casa de Canac, as congratulações de regozijo entre os batalhadores da idéia, espandiam-se na alegria de um sonho realisado, entre vivas à República, e estabelecia-se o plano do governo local... Depois começaram as adesões... a possibilidade do aproveitamento de posições...[2]

Comentou anos depois o jornal Commercio de Joinville: "Choviam telegramas, e todos, sinceramente ou não, abençoavam a República. Hoje, que ela está feita, é que muita gente a destrata. - Esta não é a república que sonhei -"[1] A satisfação com a república, anos depois, já não era a mesma.

Junta Governativa Provisória: Por enquanto, tudo continuará como está.

Na sessão da Câmara, de 18 de novembro de 1889, telegramas oriundos de Desterro foram lidos, cientificando as mudanças ocorridas no agora chamado "Estado de Santa Catharina" e da formação da junta governativa que instalou-se no poder em 17 de novembro daquele ano. Informava também do exílio da família imperial, que seguia rumo a Europa. Lidos os telegramas, o presidente Brüstlein perguntou aos demais vereadores se Joinville iria aderir ou não ao governo provisório de Santa Catharina, e houve adesão unânime. Um telegrama informando essa decisão foi enviado à capital do estado.[3] Um ofício do governo catarinense, de 18 de novembro, informava que no momento as autoridades e repartições públicas continuariam funcionando como estavam, até segunda ordem.

Fim do Período das Legislaturas Monárquicas

Ofício de Lauro Müller: a Câmara Municipal estava dissolvida.

Para demarcar a reorganização política a nível estadual e municipal, o governador Lauro Müller encaminhou aos municípios a Resolução nº 61, de 7 de janeiro de 1890, que dissolvia as Câmaras Municipais em toda Santa Catarina. O texto da resolução dizia em parte que as Câmaras achavam-se:

(...) organizadas sob o influxo dos antigos partidos e eleitas por um systema hoje abolido pelo seu caracter aristocratico, as quaes começam por isso mesmo a resignar os seus poderes;

O artigo 1º da resolução dissolveu as Câmaras e criou interinamente o conselho de intendência:

Artigo 1. Ficam dissolvidas todas as Câmaras Municipais do Estado Federal de Santa Catarina. Alterado pela Resolução de 16 de Janeiro de 1892.
Artigo 2. Até definitiva Constituição do Estado ou autos, se assim convier, o poder municipal será exercido por Conselho de Intendências Municipais, compostos de 7 membros na Capital e demais cidades, e de 5 nas vilas, sob a presidência de um deles que será eleito pelo respectivo conselho, devendo os membros das Câmaras para as quais não são nomeados os respectivos Intendentes continuar até que seja nomeado pessoal que os substitua.[4]

Em Joinville, Frederico Brüstlein convocou em 15 de janeiro os demais membros da Câmara para cientificá-los da Resolução nº 61 e declarar dissolvida aquela legislatura.[5] Findava aqui, portanto, a sexta e última das legislaturas do período monárquico.

Início das Legislaturas do Período Republicano

A resolução nº 62, também de 7 de janeiro de 1890, nomeava intendentes municipais nos 14 municípios do estado. O oeste que atualmente integra o estado catarinense não foi atingido pela resolução, já que era a zona contestada pelo estado do Paraná, estando sob a organização política daquele. Em Joinville, a resolução nomeava os seguintes cidadãos: Carlos Kumlehn, Ernesto Canac, Frederico Brüstlein, Fernando Rogner, Henrique Jordan, João Eugênio Moreira Jr. e Victorino de Souza Bacellar.[4] Estava designada dessa forma a 1ª Legislatura do período republicano, que atuaria interinamente até a promulgação de uma constitução estadual e as consequentes eleições para o cargo de vereador.

Parece que a legislatura dissolvida demorou dias até ser cientificada da resolução, já que em 11 de janeiro se reuniu e fez eleição de presidente,[6] fez outra reunião no dia 13 e só no dia 15 entregou as funções ao conselho de Intendência Municipal.[7] Uma hora depois, em obediência ao decreto nº 61, iniciava a sessão de posse do Conselho, composto pelos cidadãos nomeados pelo governador.[5]



Pesquisador: Patrik Roger Pinheiro - Historiador | Registro Profissional 181/SC

Como Citar
Referência

PINHEIRO, Patrik Roger. Proclamação da República em Joinville. Memória CVJ, 2024. Disponível em: <https://memoria.camara.joinville.br/index.php?title=Proclama%C3%A7%C3%A3o_da_Rep%C3%BAblica_em_Joinville>. Acesso em: 25 de abril de 2024.

Citação com autor incluído no texto

PINHEIRO (2024)

Citação com autor não incluído no texto

(PINHEIRO, 2024)

  1. 1,0 1,1 1,2 A República em Joinville. Commercio de Joinville, 18 de novembro de 1905. Visitado em 28/07/2023
  2. Sociedade de Amigos de Joinville. Álbum do Centenário de Joinville. Curitiba: Gráf. Mundial, 1951.
  3. Ata da Sessão de 18 de novembro de 1889, em guarda do Arquivo Histórico de Joinville.
  4. 4,0 4,1 Parte Official - Governo do Estado de Santa Catharina. República, de Florianópolis, 8 de janeiro de 1890. Visitado em 21/10/2022
  5. 5,0 5,1 Herkenhoff, E. Nossos Prefeitos - 1869-1903. Joinville: Prefeitura de Joinville, 1984.
  6. Ata da Sessão de 11 de janeiro de 1890, em guarda do Arquivo Histórico de Joinville.
  7. Ata da Sessão de 15 de janeiro de 1890, em guarda do Arquivo Histórico de Joinville.