Um Local para o Mercado Público
Em 1891, durante o Conselho de Intendência formado para substituir temporariamente a Câmara de Vereadores, houve descontentamento por parte de moradores acerca da local da construção do Mercado Público, mas a Câmara informou que não tinha determinado nenhuma construção de mercado, em lugar nenhum.
Em 1906, durante a 6ª Legislatura da Primeira República, houve nova polêmica sobre o mesmo assunto. Um projeto apresentado ao Conselho Municipal sugeria que o local escolhido deveria ser entre as atuais ruas Jerônimo Coelho (outrora rua Paris) e 9 de Março (antiga rua do Porto), nas terras que Frederico Bruestlein estava doando à municipalidade. O lugar continuava sendo um charco, facilmente inundava e precisaria de aterro, o rio ali era mais raso e não havia um cais adequado.[1]
Em 1891
Em 1890, Brüstlein adquiriu Carlos Kumlehn alguns terrenos que ficavam nas proximidades das terras dos príncipes (atual museu de Imigração e Colonização) e do Rio Cachoeira. Na primeira reunião da Câmara em 1891, os intendentes já foram cientificados de que Brüstlein estava disposto a doar tais terrenos à municipalidade, com uma condição: que ali fosse edificado o futuro Mercado Público. A resposta anotada na ata foi: "Foi aceita a proposta, ficando o procurador autorizado a receber os títulos dos ditos terrenos e pagar as competentes sisas e emolumentos."[2]
Se a Câmara aceitou os terrenos, ficou entendido pela comunidade que aceitou também a condição de ali construir o mercado, o que mobilizou a comunidade. Em março de 1891, 204 cidadãos assinaram um requerimento dirigido à Intendência, reclamando de uma decisão desta em relação ao local para a edificação do Mercado Público. Segundo os reclamantes, preteriu-se o largo do porto, um local bem melhor para a finalidade por ser de fácil acesso às embarcações e perto de moradias, em favor de terras alagadiças, sem moradores por perto, com acesso dificultado para embarcações. Um último argumento lembrava de que a lei provincial nº 899, de 1º de Abril de 1880, que criou impostos em Joinville para a construção do mercado, mencionava explicitamente que este deveria ser construído no lardo do porto.[3]
Estava evidente que Brüstlein estava interessado na especulação imobiliária, fazendo as terras dos príncipes valorizar om um Mercado em terras adjacentes. Piorava a situação saber que tanto Kuhmlenm que vendeu os terrenos, quanto Brüstlein, que os comprou e agora doava à municipalidade, eram intendentes.
A curiosa resposta da Câmara ao requerimento foi simples: "Não tem fundamento a presente representação, visto não ter essa intendência tomado resolução alguma respectivamente à construção de um edifício para servir de mercado nessa cidade".[4] Não é isso que se depreende da leitura da Ata de 8 de janeiro, mas seja como tenha sido, nenhum Mercado Público foi construído naquela época.
Em 1906
Sessão de 1º de Fevereiro de 1906
Tal projeto foi apresentado na sessão de 1º Fevereiro, uma sessão longa de três horas que acabou ficando suspensa. Retiraram-se então o superintendente Procópio Gomes e o presidente do Conselho, Ernesto Canac, talvez porque a longa sessão e as constantes discussões os tenha cansado. A sessão ficou suspensa. Porém, estando ausente o presidente, o Vice-presidente Oscar Schneider assumiu a presidência vacante e deu continuidade à sessão, aprovando o projeto sem considerar três abaixo-assinados que juntos somavam 247 assinaturas contrárias ao mesmo e sem dar importância aos argumentos de Procópio Gomes, também contrário ao projeto.[5]
Por outro lado, o local do atual mercado já estava aterrado e tinha um cais apropriado, pois era ali que os barcos aportavam quando chegavam em Joinville.
Abaixo-Assinado nº 1
Illmo. sr. Presidente do Conselho Municipal e srs. membros do Conselho Municipal de Joinville.
Os abaixo assignados, moradores e propictarios desta cidade, vem apresentar seus protestos contra o projecto de lei que foi apresentado na ultima sessão desta Conselho, mudando o lugar do mercado para o terreno doado pelo sr. Dr. Frederico Brustlein, na rua de Paris. Sendo em bem de toda a população que o mercado seja construido no porto desta cidade que se acha em condições vantajosas pelo lado financeiro do municipio é um grande erro da administração municipal de não aproveitar estas vantagens. Por isso pedem os abaixo assignados que não seja tomado em consideração o dito projecto.
Joinville, 29 de Janeiro de 1906.
Eduardo Schwartz, Miguel Vogelsanger, Jacob Vogelsanger, Ernesto Gifthoru, Salvador Gonçalves Corrêa, Edgardo Schutel, Frederico Hudler, Frederico Vogelsanger, Martin Stamm, Jorge Spitzner, Pedro Mayerle, Paulo Mayerle, Adolfo Colin, Gustav Kupper, Arnoldo Grossenbacher, Carlos Grinsch, Peter G. Mayerle, João Fettback, Rudolto Múller. Adriano Schoondermark, Carlos J. Etzold, W. Schröder, João Adolfo Müller.
Abaixo-Assinado nº 2
Ilmos. srs. Presidente e mais membros do Conselho Municipal de Joinville.
Os abaixo assignados, moradores desta cidade de Joinville, sorprehendidos pela apresentação de um projecto mudando para um brejo o local do mercado que sempre entenderam devia ser edificado no porto da cidade e no largo já denominado do mercado, vem respeitosamente representar á V. Sas. que o projecto annula de facto a lei do mesmo Conselho que autorisou construcção do mercado, visto como sua edificação no dito brejo excederia em muito à verba fixada na lei, parecendo portanto que o fim unico do projecto é impedir agora à construção do mesmo mercado.
Pedem a V. Sas. considerar o peixe, os mariscos, as frutas e outros generos que sempre affluem no actual largo do mercado, se deterioram rapidamente, expostos como estão, ás ardentias do sol e prejudicam muito a saude da população menos abastada da cidade.
Rogam à V. Sas. não privar, por mais tempo, a população de um melhoramento hoje indispensavel e esperam que V. Sas. se esforçarão para que o mercado seja immediatamente construido em seu local natural no largo do mesmo nome.
E.R.M. Joinville, 28 de Janeiro de 1906,
Francisco Machado da Luz, João Eugenio Moreira, Leopoldo Corrêa, Carlos Otto Krelling, José Alves Machado, João Eugenio Moreira Junior, Alvin Stamm, Ricardo Scheidemantel, Alexandre Ernesto d'Oliveira, Gustavo Krause, Livino Machado d'Oliveira, Manoel Sabino de Miranda, Paulo Douat, Firmino José da Silva, Genoviano Rodrigues, Octavio Rosa, H. Douat, Mario Lobo, Trajano Ribeiro, Franc. José Ribeiro, Procopio Moreira.
Abaixo-Assinado nº 3
Ilmos. Snrs. Conselheiros do Municipio de Joinville.
Os abaixo assignados, residentes em Joinville, vêm com à devida venia, solicitar de Vas. Sas. vão seja dado seguimento à um projecto que lhes consta ter sido apresentado para protelar ainda à construcção do mercado desta cidade.
Quando ha tres anos o Conselho autorisou tum emprestimo de vinte contos para o mercado, sem designação do respectivo local, todos entenderam que o unico lugar appropriado era o porto da cidade no local approximadamente occupado pelo ex-escriptorio da Estrada D. Francisca, cuja demolição se obteve do Governo da União e não podia ser outra à intensão do Conselho porque os vinte contos mal chegarião para o aterro do pantanal cedido ha tempo à Municipalidade, presente que o Superintendente de então, só acceitou sob condição de ser utilisado para qualquer outra obra de utilidade publica, tão evidente era sua impropriedade para à construcção do mercado. Assim o entendiam à maioria do Conselho que votou à lei e o Superintendente que à sanccionou.
É não se marcou o lugar exacto somente porque devia elle ser determinado de accordo com às obras de aterro do porto e construcção do caes à cargo do Superintendente.
Com a devida differencia, os abaixo assignados solicitam de Vs, Sas. a benevolencia de considerar:
- Que o terremo do mercado já está solidamente attterrado com alicerces já preparados conjunctamente com as obras do caes, unico meio de se construir com vinte contos um edificio em harmonia com o progresso da cidade.
- Que o Superintendente, obedecendo a lei, já fez o emprestimo, recebeu parte delle, entregou às cautelas vencendo juro de 6% annuaes, mandou fazer por profissionaes varias plantas dentro do orçamento legal o que é justamente no momento de se pôr em execução este meIhoramento desde mais de vinto annos desejado que apparece um projecto de obstrucção sem que se conheçam as razões que o apoiam, os motivos que defendem nem os pretextos que o desculpam.
Confiados no Patriotismo de Vs, Sas., os abaixo assignados esperam ser attendidos em suas justas aspirações de vêr o Porto da cidade logo dotado de um edificio que cidades de muito menos importancia já possuem.
E. R. M. Joinville, 27 de Janeiro de 1906,
Francisco Gomes d'Oliveira, Hilario Affonso Moreira, Valdemaro dos Santos Ferreira, Heitor Jayme Indalencio, Maximiliano Colin, Adolpho Eberhardt, Gustavo Raschke, Guilherme Wolf, Theodoro Sprenger, Horacio dos Santos Pereira, Moyzes Oliveira Luz, Germano Hoerning, João Moreira Junior, Adolf Lohr, João Paul, Amando de França, Manoel Ribeiro dos Santos, Carlos Otto Krelling, Hugo Otto Kiebitz, Theodorico Dias da Silva, Henrique Alves Dungee, Bento d'Oliveira Sobrinho, Josef Dörfler, Francisco Manoel de Paula, Alfredo Hanorato do Nascimento, João Eugenio Torrens, Antonio Seogis Miranda, Alwin Köhler, José Pedro Torrens, Pedro Paulo Torres, Olegario Ferreira de Carvalho, João Adolfo de Lemos, Francisco José dos Santos, José Domingos do Amaral, Geraldo Fernandes da Costa, Lucio Gonçalves Corrêa, Galdino Evangelista Carvalho, Abilio de Oliveira Cercal, João Augusto de Oliveira, Antonio Evangelista Carvalho, Rodolfo Alves de Limas, Antonio Budal Arins, Luiz Carneiro da Silva, Jereno Antonio de França, Antonio Cardozo da Silva, João Borges de Oliveira, Eugenio Richter, Otto Siedschlag, Rudolfo Siedschlag, Carlos Siedschlag, Antoni Gonçallo, Pedro José Pereira, Mencelio de Vieiras, Frederico Hill, Virgilio Pereira Ramos, Guilherme Müller, Oswaldo J. Gonçalves, Julio Socrel, Pedro Alves de Carvalho, Frauc. Éhlke, Manoel Franc. Lemos, Francisco Büchele.
Sessões de 5 e 19 de Fevereiro de 1906
Na sessão do dia 5 de fevereiro, foram lidos os três requerimentos da população que ficaram de fora da Sessão do dia primeiro.[6] Então, na sessão de 19 de fevereiro, Procópio Gomes compareceu munido de um parecer da comissão de Obras Públicas interna e externa, que designava como local de construção o largo do porto, e não o charco nas terras de Brüstlein. O parecer ia ao encontro do clamor popular.
Uma comissão interna era composta por conselheiros (vereadores), enquanto a externa era composta por outros cidadãos de fora do poder público municipal. O parecer foi aprovado por unanimidade na câmara, tendo se ausentado da reunião o conselheiro Schneider, alegando motivo de saúde. Após encerrada a sessão, o presidente retomou a palavra recomendando que dois engenheiros fossem ouvidos, o que ajudaria o conselho a tomar uma decisão pontuada por opiniões técnicas.
Aqui ou Ali... Mas Seria Construído
Antes de surgir no conselho o projeto que pretendia escolher um novo lugar para a edificação do mercado, havia o entendimento de que esta se daria no porto já existente. Por isso, em 21 de fevereiro a superintendência municipal lançou edital para concorrência de fornecimento de madeira (preço por metro) e tijolos (preço por milheiro).[7] Com propostas contendo preços elevados e prazo de março vencido, a municipalidade anulou a primeira concorrência e lançou novo edital nas mesmas condições, que encerraria no dia 19 de Abril.
No que se refere à madeira, Gustavo Witt venceu a concorrência com Harry Monich, os dois únicos a enviarem propostas. Vencida essa etapa, a próxima naturalmente era contratar o carpinteiro. Por isso, o edital de 25 de abril abria concorrência para a execução desse serviço, e as propostas deveriam ser encaminhadas até o dia 12 de maio.[8] Passou a pairar uma dúvida sobre o local da construção, mas o material já estava sendo reunido.
Local Definido, Mãos à Obra
Na sessão ordinária de 7 de maio, o Conselho Municipal leu o parecer dos engenheiros major Eugenio Franco e Dr. Ignacio de Oliveira, que expuseram que o melhor lugar para a edificação do Mercado Público era mesmo o aterro do porto.[9] Com isso, foi publicada a Resolução Nº 112, que designava o aterro do largo do Porto para receber tal construção. Em novembro a construção já estava bem adiantada, faltando por terminar a cobertura e a praça já estava sendo arborizada.
Pesquisador: Patrik Roger Pinheiro - Historiador | Registro Profissional 181/SC
Como Citar |
Referência
PINHEIRO, Patrik Roger. Um Local para o Mercado Público. Memória CVJ, 2025. Disponível em: <https://memoria.camara.joinville.br/index.php?title=Um_Local_para_o_Mercado_P%C3%BAblico>. Acesso em: 1 de abril de 2025. |
Citação com autor incluído no texto
Pinheiro (2025) |
Citação com autor não incluído no texto
(PINHEIRO, 2025) |
Notas
Referências
- ↑ Carlos Ficker. História de Joinville - Subsídios para a Crônica da Colônia Dona Francisca. Joinville: Impressora Ipiranga, 1965.
- ↑ Ata da Sessão de 8 de janeiro de 1891, em guarda do Arquivo Histórico de Joinville.
- ↑ O Mercado. Gazeta de Joinville, 22 de março de 1891. Visitado em 24/03/2025.
- ↑ Ata da Sessão de 7 de maio de 1891, em guarda do Arquivo Histórico de Joinville.
- ↑ Projeto Absurdo. Gazeta de Joinville, 10 de fevereiro de 1906. Visitado em 07/08/2024
- ↑ Ata da Sessão de 5 de fevereiro de 1906, em guarda do Arquivo Histórico de Joinville.
- ↑ Edital. Gazeta de Joinville, 24 de fevereiro de 1906.
- ↑ Edital. Gazeta de Joinville, 28 de fevereiro de 1906.
- ↑ Ata da Sessão de 7 de maio de 1906, em guarda do Arquivo Histórico de Joinville.